OPINIÕES IMPORTANTES

OPINIÕES IMPORTANTES

Cadeia da ilegalidade
13/04/2015 02h00
Adoro rádio. No meu apartamento, alugado, tenho cinco aparelhos ou mais. Sempre
ligados em notícias, alternados por momentos musicais. Mídia impressa, televisão,
internet ""presto atenção a tudo, mas nunca deixo de apreciar a rapidez com que o rádio
nos informa.
Neste domingo levei um susto, ou um choque de realidade. Uma das emissoras que eu
sempre sintonizo dedicou sua programação inteira à cobertura de atos contra o governo.
Nem o futebol transmitiram.
Lembrei do poder do rádio com a Cadeia da Legalidade. Em 1961, quando os militares
ensaiavam um golpe contra o vice João Goulart diante da renúncia de Jânio Quadros, o
governador gaúcho Leonel Brizola foi à luta. Assumiu os transmissores da rádio Guaíba
e passou a disparar apelos pelo respeito à regra do jogo. Ou seja, que Jango assumisse
conforme mandava a Constituição da época. Uma bandeira justa do ponto de vista da
democracia. Foi bem sucedido, por três anos. Até 1964.
Agora vemos o inverso. A mídia mainstream aderiu com tudo às passeatas que pedem
impeachment da presidente, fim da corrupção, afastamento do ministro Toffoli (!!!) e, por
que não, intervenção militar. Faltou protestar contra a epidemia de dengue,
racionamento, escalada da violência, falta de material escolar ""vai ver que não cabia
nas faixas.
Não interessa se neste 12 de abril houve mais ou menos pessoas do que em
manifestações anteriores. Quem teve a chance de conhecer países em que a
democracia existe há tempos sabe que atos como estes são corriqueiros. Você chega a
Paris e é surpreendido por uma greve de metrô ou protestos contra o desemprego. Em
Barcelona, manifestações quase diárias pedem a independência do povo basco. Nos
Estados Unidos, atos contra ou a favor de alguma causa acontecem diariamente. Nada
disso impressiona. O que impressiona é a cobertura digna de Copa do Mundo destinada
a tais manifestações ocorridas no Brasil. Jornalistas de verdade gostam de notícias.
Mas o que poderia ser mais tedioso e revelador do que ouvir o dia inteiro a mesma
narrativa (palavra da moda) sobre atos esvaziados ou inflados artificialmente?
O Brasil já viveu campanhas épicas. Entre outras, a mobilização pela Anistia, o
movimento pelas Diretas, o impeachment de Collor, as manifestações de 2013. Todas
tinham um objetivo definido, a partir de fatos comprovados. E agora? Querem o
impeachment? Então assumam. Faz parte. Só não esqueçam de providenciar os
motivos e de que os responsáveis maiores por este tipo de decisão na Câmara e
Senado encabeçam a lista de acusados na Lava Jato.
FRASES QUE FICAM
"Você não pode olhar do ponto de vista moral. Os grupos econômicos se articulam. [...]
Você não perguntou, mas posso dizer aqui para a mídia: cartel virou sinônimo de delito,
mas não é nada mais, nada menos que monopólio. São empresas que combinam preço,
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não que tomam preço. Esse é um fenômeno super comum no mundo inteiro. [...]
Quando jornais do interior combinam de aumentar e diminuir preço do jornal, há cartel aí
[...] Isso não significa que cartel é delito. De repente, em estação de Metrô, em obra
pública, diz que se formou cartel e parece que é 'opa, tem cartel aí', mas é o mesmo que
se dizer que se formou um monopólio, oligopólio."
(José Serra, PSDB, em 25.ago.2014, quando candidato ao Senado, durante evento para
empresários do setor de comunicações. À disposição na internet.)
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Luiz Fernando Vianna
Vitória parcial
RIO DE JANEIRO - Apesar do empurrão da pesquisa Datafolha, divulgada na véspera,
os atos contra Dilma perderam um tanto de sua força. Mas não é o caso de
desqualificá-los. Pelo contrário. Comprovou-se que há gente engajada no que acredita
ser o melhor para o país. Isso é relevante num movimento com marcas de
despolitização, como desconhecimento da história brasileira --parecendo crer que a
corrupção começou há 12 anos-- e apreço pequeno pela democracia duramente
conquistada.
No jogo de especulações sobre por que a revolta retraiu, talvez valha pensar em dois
pontos, dentre outros. Um é que, mesmo sendo o impeachment o tesouro procurado,
parte dos anseios dos descontentes já vem sendo atendida: esfacelamento do PT, que
virou uma coisa invertebrada, e triunfo de uma agenda conservadora --redução da
maioridade penal, leis para estimular a violência das polícias, bloqueio da ampliação dos
direitos de mulheres e gays.
É significativo que, em protestos que têm a corrupção como inimiga, seja difícil ver
cartazes contra Eduardo Cunha. Ao emparedar o PT e devolver ao reacionarismo um
vigor político que não tinha desde a ditadura, o presidente da Câmara dos Deputados
realiza muito do que desejam os manifestantes.
O segundo ponto é que o movimento ainda está sendo guiado mais pelo fígado (ódio ao
PT) do que pelo estômago (desemprego, perda de renda); mais por vontade do que por
necessidade. Para quem conhece o Rio, foi fácil perceber que não havia em
Copacabana gente em situação financeira precária. Eram 10 mil pessoas de uma classe
média que segue a pauta dos grupos de comunicação, claramente favoráveis aos
protestos.
Se a crise se instalar com a força que se espera e os mais pobres saírem às ruas, é
possível que a turma deste domingo corra para seus apartamentos. E chame a polícia.
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